divulgação de livros; comentário de obras lidas; opiniões; literatura portuguesa; literatura estrangeira
António Lobo Antunes, A morte de Carlos Gardel, Dom Quixote, 1994, 392 páginas.
Álvaro, um homem que nunca soube exactamente o que devia fazer da vida, que casa sem saber bem o que quer, que se separa da mulher porque não a suporta, por mais esforços que ela faça para para lhe agradar, que vive com uma única obsessão: a música de Carlos Gardel.
Cláudia, que vive com um jovem "que podia ser seu filho" depois da separação de Álvaro, e que, depois da morte do filho, volta para a Alemanha, onde tinha vivido em criança, em busca de uma nova vida.
Nuno, o filho de Álvaro e de Cláudia, o jovem perdido, sem rumo, que acaba no hospital, vítima das suas dependências.
Graça, irmã de Álvaro e tia de Nuno, uma médica, mulher determinada e moderna, com ideias muito próprias sobre a vida, mas também ela perdida em dúvidas sobre o que deseja para si.
Cristiana, com uma infância complicada, a amiga de Graça, não compreendida pela família, que não entende a sua opção de ir viver com Graça, e que acaba também sozinha, regressando à família.
Um elenco de personagens que vive de angústias, de tristezas, de recordações do passado.
O título é apenas uma metáfora para aquilo que é preciso deixar para trás, de modo a manter os pés assentes na terra e viver a realidade, procurando nela o que interessa a cada um.
António Lobo Antunes, Sôbolos Rios que vão, Dom Quixote, 2010, 199 páginas.
A estrutura é diarística, começa no dia 21 de Março de 2007 e termina no dia 4 de Abril de 2007.
Deitado na cama do hospital, o protagonista passa em revista toda a sua vida, do passado ao presente, dos familiares aos amigos. Enquanto dá conta do bulício normal de um hospital e daquilo que se passa consigo, a sua mente vai revivendo outros momentos, outros tempos que se entrecruzam com os momentos presentes, numa confusão de datas e de situações.
É um reviver dos acontecimentos que marcaram a sua vida, é a angústia do presente, neste diálogo consigo mesmo, enquanto sofre os horrores da doença e sente "um ouriço no interior do corpo" "a dilatar-se e ele a calcular as zonas que ia ocupando uma a uma"; e as imagens iam passando na sua mente em catadupa, sobrepondo-se, interpenetrando-se e ele "tentava dar nome às formas e não achava os nomes, estava e não estava acordado como quando parece compreendermos o sentido do mundo que no instante de o compreendermos se esfuma".
Um romance denso, profundo, que nos faz meditar sobre a vida, sobre o sofrimento e nos deixa, não raras vezes, angustiados.
O título é simbólico, lembrando as redondilhas camonianas: