No Dia Mundial do Teatro é bom lembrar o pai do teatro na literatura portuguesa — Gil Vicente.
Foi em 1502, na noite de 7 para 8 de Junho, no nascimento daquele que viria a ser o rei D. João III, que Gil Vicente representou, ele próprio, aquela que seria a primeira de um vasto conjunto de peças de teatro da sua autoria, o Auto da Visitação ou Monólogo do Vaqueiro.
Nasceu assim o teatro escrito, na literatura portuguesa, depois dos primeiros arremedos, improvisações nas festas da corte, ou representações de carácter religioso por altura das principais festas da Igreja.
Do Auto da Mofina Mendes, esta fala da personagem, Mofina, que representa bem a sorte ou a má sorte. Ela é o símbolo do sonho, dos castelos no ar, das ilusões desfeitas.
Diz o patrão Payo Vaz:
Pois Deos quer que pague e peite
tão daninha pegureira,
em pago desta canseira
toma este pote de azeite,
e vae-o vender á feira;
e quiçaes medrarás tu,
o que eu contigo não posso.
Mofina:
Vou-me á feira de Trancoso
logo, nome de Jesu,
e farei dinheiro grosso.
Do que este azeite render
comprarei ovos de pata,
que he a cousa mais barata
qu'eu de lá posso trazer.
E estes ovos chocarão;
cada ovo dara hum pato,
e cada pato hum tostão,
que passará de um milhão
e meio, a vender barato.
Casarei rica e honrada
por estes ovos de pata,
e o dia que for casada
sairei ataviada
com hum brial d'escarlata,
e diante o desposado,
que me estará namorando:
virei de dentro bailando
assi dest'arte bailado,
esta cantiga cantando.
Estas cousas diz Mofina Mendes com o pote de azeite à cabeça e andando enlevada no bailo, cai-lhe