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Leituras

divulgação de livros; comentário de obras lidas; opiniões; literatura portuguesa; literatura estrangeira

Leituras

divulgação de livros; comentário de obras lidas; opiniões; literatura portuguesa; literatura estrangeira

 

José Luís Peixoto, Livro, Quetzal, 2010, 263 páginas.

 

Com múltiplos significados, Livro é personagem, é escrita sobre literatura, é escrita do próprio livro, numa metalinguagem que, em diálogo com o leitor, nos transporta para o universo da própria escrita. O livro é ainda o elo de ligação entre personagens, é confidente, é meio de comunicação.

O narrador conta-nos uma história, localizada num ambiente rural, que se desenrola ao longo das décadas de 50 e 60 do século XX, com os problemas sociais que a envolvem, o início da guerra em África e a emigração clandestina para França. Assistimos às aventuras e tragédias das viagens nocturnas para atravessar a fronteira para Espanha e para França, às vivências nos bairros de lata dos arredores de Paris, à integração, ao regresso à terra.

Todo este ambiente envolve uma história de amor contrariado, a separação e o desencontro que a emigração provoca, o regresso e o reencontro dos antigos apaixonados.

Na segunda parte da obra, percebemos que o narrador é, afinal, um luso-parisiense que regressa às origens, procurando a integração numa terra que não é a sua, e que nos narra a história da sua família. A partir deste momento, a narrativa é de primeira pessoa, com um narrador personagem que constrói a sua narrativa em diálogo com o leitor, explicando, pelas suas vivências, um discurso mesclado de português e francês. O narrador evidencia  o seu gosto e entusiasmo pela literatura francesa, presença, aqui, talvez, do autor que se mistura com o narrador, deixando transparecer os seus gostos pessoais.

Neste desenrolar da história de uma família, chegamos aos anos 70 e ao pós 25 de Abril de 1974.

"Este livro podia acabar aqui. Ficávamos assim, no vácuo desta revelação. The end. Ou talvez não seja sequer uma revelação, talvez seja apenas um sinal da minha incapacidade de interpretar detalhes.

Tento equilibrar-me. Como dizia, entre 1960 e 1974, cerca de um milhão e meio de portugueses emigraram para França.

Cada letra e cada espaço das páginas anteriores equivale a mais de três portugueses que fizeram essa viagem. (pág.261)"