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Leituras

divulgação de livros; comentário de obras lidas; opiniões; literatura portuguesa; literatura estrangeira

Leituras

divulgação de livros; comentário de obras lidas; opiniões; literatura portuguesa; literatura estrangeira

A 16 de Março de 1825 nascia Camilo Castelo Branco.

Da sua notável e extensa obra recordamos "A Queda de um Anjo", de 1865.

 

A dado momento, a personagem principal, Calisto Elói, ouvindo um grupo, no qual se incluía o padre, a clamar contra o imperador romano, a propósito do martírio de S. Sebastião, exclama:

 

— Portugal está alagado pela onda da corrupção, que subverteu a Roma imperial! Os costumes de nossos maiores são metidos a riso! As leis antigas, que eram o baluarte das antigas virtudes, dizem os sicofantas modernos que já não servem à humanidade, a qual, em consequência de ter mais de sete séculos, se emancipou da tutela das leis (alusão ervada aos vereadores de Miranda, que discreparam do intento restaurador do foral dado por D. Afonso. Vinham a ser sicofantas os colegas municipalenses.) Credite, posteri! — exclamou Calisto Éloi com ênfase, nobilitando a postura.  ...

Ficaram o boticário e o professor de primeiras letras, e mais os lavradores, ruminando as palavras do fidalgo, e glosando-as de notas ilustrativas, ao alcance das capacidades.

Um dos mais graves e anciãos lavradores, regedor, ensaiador e ponto nos entremezes do Entrudo, exclamou:

— Aquilo é que dava um deputado às direitas! Um homem assim, se fosse a Lisboa falar ao rei, as contribuições haviam de acabar!

— Isso não, perdoará vossemecê, tio José do Cruzeiro — observou o mestre-escola — os impostos é necessário pagá-los. Sem impostos, não haveria rei nem professores de instrução primária (observem a modéstia da gradação!) nem tropa, nem anatomia nacional.

O mestre-escola havia lido, repetidas vezes, no Periódico dos Pobres, as palavras autonomia nacional. Falhou-lhe desta feita a memória, lapso que não destoou em nenhumas orelhas, exceptuando as do boticário, que resmungou:

— Anatomia nacional!

— Que é?! — perguntou ao farmacêutico um estudante de clérigo.

— Parece-me que é asneira! — respondeu o outro com certa indecisão.