Maria Vitalina Leal de Matos, Prosas Desfocadas, 4Águas editora (POPSul), 2013, 103 páginas.
São 23 pequenos textos, de temas diversos e muito distintos entre si, com um alinhamento desordenado, até pela numeração, o nº XXIII vem em segundo lugar, o que tem a numeração XII, em último.
Textos poéticos, muitos deles, reflexões sobre a vida, sobre o amor e a morte, num exemplar tratamento da língua, como seria de esperar de uma especialista da literatura portuguesa, numa linguagem metafórica, cheia de significados múltiplos.
O sujeito/ narrador é, umas vezes feminino, outras do sexo masculino, situando-se, a maior parte das vezes, num ambiente irreal, de sonho ou de fantasia, numa fuga à realidade. O ponto de partida pode ser o mar, lugares/recordações, sentimentos, por vezes tristes, outras felizes...
E a poesia sempre presente... a metáfora, a imagem simbólica...
"Nas dunas, a vegetação agita-se como cabelos, dócil, percorrida por música.
Mas não se ouve nada.
Corro por entre as dunas, corro à beira-mar.
E de súbito, como num búzio, ouve-se. Vem de longe e soa, vem soando até se perder na espuma.
Branca, rendilhada, leve, branca sobre a orla.
Dançava e rodava. Deixava cair a cabeça e rodava, e sob os cabelos via de novo o branco rendilhado, esvoaçando, na orla da saia.
Havia espuma na mesa, nas taças.
Ouve-se e vem de longe, como num búzio. É bom porque vem de longe, não se sabe de onde." — Dunas