Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Leituras

divulgação de livros; comentário de obras lidas; opiniões; literatura portuguesa; literatura estrangeira

Leituras

divulgação de livros; comentário de obras lidas; opiniões; literatura portuguesa; literatura estrangeira

 

Andrea Vitali, A filha do regedor, Porto Editora, 2010 (ed.original 2005), 251 páginas.

 

Localizado nos anos 30, início do fascismo em Itália, este romance é o retrato do quotidiano de uma pequena localidade nos arredores do lago de Como. Num ambiente pequeno-burguês, fechado, muito ligado a convenções, a aparências, aparece-nos uma jovem com um espírito aberto, que procura fugir ao jugo paterno e às suas exigências não justificadas. Igualmente uma senhora idosa se revela a mais jovem de todas as personagens, pela forma ardilosa como contorna as situações e compreende os amores juvenis.

O regedor é uma personagem preocupada com o seu sucesso pessoal, um simplório, que acaba por cair nas armadilhas da sua própria ambição.

Toda a narrativa, algo picaresca, procura mostrar o ridículo das situações que estas mesmas personagens provocam, pois vivem num mundo de fantasia, de aparências, entre escândalos e intrigas.

Um romance que se lê com agrado, um discurso fluente, de quem sabe contar uma história e prender o leitor na sua sequência. Capítulos curtos transportam-os aos vários ambientes, que se vão entrelaçando ao longo da narrativa, numa linguagem cheia de humor.

 

José Luís Peixoto, Livro, Quetzal, 2010, 263 páginas.

 

Com múltiplos significados, Livro é personagem, é escrita sobre literatura, é escrita do próprio livro, numa metalinguagem que, em diálogo com o leitor, nos transporta para o universo da própria escrita. O livro é ainda o elo de ligação entre personagens, é confidente, é meio de comunicação.

O narrador conta-nos uma história, localizada num ambiente rural, que se desenrola ao longo das décadas de 50 e 60 do século XX, com os problemas sociais que a envolvem, o início da guerra em África e a emigração clandestina para França. Assistimos às aventuras e tragédias das viagens nocturnas para atravessar a fronteira para Espanha e para França, às vivências nos bairros de lata dos arredores de Paris, à integração, ao regresso à terra.

Todo este ambiente envolve uma história de amor contrariado, a separação e o desencontro que a emigração provoca, o regresso e o reencontro dos antigos apaixonados.

Na segunda parte da obra, percebemos que o narrador é, afinal, um luso-parisiense que regressa às origens, procurando a integração numa terra que não é a sua, e que nos narra a história da sua família. A partir deste momento, a narrativa é de primeira pessoa, com um narrador personagem que constrói a sua narrativa em diálogo com o leitor, explicando, pelas suas vivências, um discurso mesclado de português e francês. O narrador evidencia  o seu gosto e entusiasmo pela literatura francesa, presença, aqui, talvez, do autor que se mistura com o narrador, deixando transparecer os seus gostos pessoais.

Neste desenrolar da história de uma família, chegamos aos anos 70 e ao pós 25 de Abril de 1974.

"Este livro podia acabar aqui. Ficávamos assim, no vácuo desta revelação. The end. Ou talvez não seja sequer uma revelação, talvez seja apenas um sinal da minha incapacidade de interpretar detalhes.

Tento equilibrar-me. Como dizia, entre 1960 e 1974, cerca de um milhão e meio de portugueses emigraram para França.

Cada letra e cada espaço das páginas anteriores equivale a mais de três portugueses que fizeram essa viagem. (pág.261)"

 

Kaui Hart Hemmings, Os descendentes, Editorial Presença, Janeiro de 2012, 297 páginas.

 

Um romance do mundo contemporâneo. Uma narrativa que põe em destaque as relações familiares, as diferenças de idade entre os casais, as relações entre pais e filhos, os sentimentos e as emoções perante a morte. Acompanhamos os problemas de um pai que, tendo estado ausente durante o crescimento das suas duas filhas, se vê, de repente, sozinho com uma jovem filha rebelde e outra na pré-adolescência, cada uma com as suas rebeliões e provocações. Vemos um marido que põe em causa toda a sua vida conjugal ao defrontar-se com a morte iminente da mulher.

O Havai, as suas paisagens, os seus habitantes e o orgulho dos últimos descendentes dos naturais da ilha são o cenário de Os Descendentes, obra já adaptada ao cinema.

Com um enredo simples, uma narrativa fluente que se desenvolve, por vezes, com humor perante as situações inesperadas.