Jostein Gaarder, O Castelo dos Pirenéus, Editorial Presença, Abril de 2011, 172 páginas.
Mais uma belíssima reflexão do autor de "O mundo de Sofia", "O enigma e o espelho", "Ética para um jovem", "A rapariga das laranjas", para além de outros.
Desta vez, a obra gira à volta de duas personagens, um homem e uma mulher, que viveram um grande amor na sua juventude e que, separados, ambos com novas vidas, casados e com filhos, se encontram 30 anos depois, por acaso (se há acasos nesta vida!), no mesmo hotel onde tinham estado.
A partir desse encontro decidem comunicar através de correio electrónico, recordando esses anos passados, recontando um ao outro tudo o que aconteceu nesse tempo, as suas ideias, as suas crenças, os episódios marcantes.
Ele, professor universitário, materialista, pragmático, acreditando nas explicações da ciência e duvidando de qualquer explicação que não possa ser comprovada; ela, espiritualista, crente na vida para além da morte, procurando na fé muitas explicações para aquilo que a ciência não entende.
As trocas de correspondência são longas reflexões sobre aquilo em que cada um acredita: para ele a vida na terra, como surgiu, como tudo pode ser explicado, a origem do universo, a consciência universal, os fenómenos da natureza... Para ela, o espírito, a crença no sobrenatural, a fé de que não há morte mas uma mudança no "tipo" de vida.
Nas recordações do passado, e causa da separação das suas vidas, está um episódio que ambos viveram mas que interpretaram de forma diferente, e essa diferença foi fatal para a comunhão que os unia e por isso gerou o afastamento.
Esta correspondência acaba por aproximá-los de novo, levando-os a concluir que o amor que sentiam nunca tinha morrido.
É esse episódio, o mistério que só no final é revelado e que conduz ao desenlace, que deixa o leitor na mesma posição de dúvida e incerteza acerca de tudo o que é discutido ao longo da obra, ou, quiçá, na certeza daquilo que a personagem defende.