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Leituras

divulgação de livros; comentário de obras lidas; opiniões; literatura portuguesa; literatura estrangeira

Leituras

divulgação de livros; comentário de obras lidas; opiniões; literatura portuguesa; literatura estrangeira

 

 

Pensamentos de Heraclito, século VI-V a.C. :

 

"Ser sensato é a maior excelência, ser sábio é dizer a verdade e proceder de acordo com a natureza."

 

"Aos homens todos é dado conhecerem-se a si mesmos e saberem pensar."

 

De Alcméon, da mesma época:

 

" O homem distingue-se dos outros seres em ser o único que compreende, ao passo que os outros sentem, mas não compreendem."

 

Como continua a ser importante a sabedoria dos clássicos! 

Oh, se os ouvíssemos!

 

Efectivamente, aqueles que se esforçaram a aprender gramática, música e as demais disciplinas, não adquiriram vantagem alguma com relação a falar ou a deliberar melhor sobre os factos, mas tornam-se mais capazes de apreender conhecimentos mais elevados e mais sérios.

Isócrates, (Atenas, séc.V-IV a.C.), Sobre a Permuta [ trad. de M.H.da Rocha Pereira, Hélade - Antologia da Cultura Grega ]

 

 

"Eu não faço mais do que ir pelas ruas para vos persuadir, aos mais novos e aos mais velhos, de que não deveis preocupar-vos com o vosso corpo e os vossos haveres mais do que com a vossa alma, para a tornar o melhor possível, dizendo-vos que 'A virtude não vem da riqueza, mas sim a riqueza da virtude, bem como tudo o que é bom para o homem, na vida particular ou pública' " — Platão (séc. V-IV a. C.), Apologia de Sócrates, 30 (trad. de M.H. da Rocha Pereira, Hélade - Antologia da Cultura Grega). 

 

A atualidade da poesia:

 

Quando alguém passa da pobreza à riqueza e alcança

um cargo público, nunca mais se lembra do que era dantes.

Renega as anteriores amizades e, insensato,

não conhece os caprichos da inconstante Fortuna.

Foste outrora um mendigo, mas tu, que pedias esmola,

recusas-te agora a dá-la aos outros. Meu amigo, tudo

o que pertence aos homens é fugaz. Se não acreditas, irás

pedir esmola outra vez e serás tu próprio testemunha.

 

Agátias, o Escolástico (Constantinopla, séc.VI) - Antologia Palatina, 66 (trad. de Albano Martins, Edições ASA, 2001).

 

Os grandes clássicos, sempre atuais:

 

" Nas grandes empresas, é difícil agradar a todos."

 

Sólon, ateniense, grande legislador, séc. VI a.C.

in Antologia da Poesia Grega Clássica, trad. e notas de Albano Martins, Portugália Editora, 22010.

 

Muito se tem citado o nosso grande Eça, mostrando a actualidade dos seus textos.

Aqui fica mais um. Falando sobre a Europa, escrevia:

 

"De sorte que, olhando em resumo para o norte e para o sul, bem podem aqueles que se distinguem por conhecer as coisas das nações sombriamente afirmar que a máquina se desconjunta, e que a situação da Europa é medonha!

E todavia, no fundo, a situação é simplesmente normal. [...]

A situação da Europa, na realidade, nunca deixou de ser medonha. Tem-no sido melancolicamente e apaixonadamente todo este século. Foi-o durante todo o século XVIII, através de mais indiferença e de uma maior doçura de vida. Tem-no sido em todos os séculos, desde que os Árias aqui chegaram, cantando os Vedas e empurrando os seus rebanhos para oeste. A "crise" é a condição quase regular da Europa. E raro se tem apresentado o momento em que um homem, derramando os olhos em redor, não julgue ver a máquina a desconjuntar-se, e tudo perecendo, mesmo o que é imperecível — a virtude e o espírito. Já o velho cronista medieval murmurava com infinita desconsolação: — "Tudo se desconjunta, e mesmo entre os homens se vai embotando a ponta da sagacidade." Já o mais velho poeta clássico, o comedido e satisfeito Horácio, cantara tristemente, quando sobre o Mundo começava a espalhar-se a imensa majestade da paz romana: — "Tudo se afunda, e, mais que nenhum outro, este tempo é fecundo em misérias."

Naturalmente não se queixavam de deficits ou de crises industriais, mas daquilo que então mais preocupava os homens cultos — o enfraquecimento da virtude, da moral, da religião, do patriotismo, da segurança pública.   [...]

Mas o que são no fundo estes lamentos? São apenas, num tom mais solene e amplo, aquele queixume familiar que cada ano redizemos, quando as folhas caem e os céus se recobrem de névoas: — "Aí vem o Inverno e a noite!"

É que a sociedade assemelha-se à Natureza. E na Europa, como em qualquer espesso bosque, num fundo de vale, um momento vem em que tudo decai e fenece: — os ramos secam e racham, os mais altos carvalhos tombam de velhice, mil podridões fermentam, o solo desaparece sob os destroços, a obscuridade aterra, um longo soluço passa no vento. E, a quem então o atravesse, o bosque afigura-se na verdade coisa confusa, arruinada e medonha. E todavia, tudo isso — é simplesmente Dezembro. É a vida; é a ordem. Das ramagens apodrecidas já se estão nutrindo as sementes que hão-de ser árvores: e através das decomposições conserva-se a seiva, que tudo fará reflorir e reverdecer, quando Março chegar. Ora estes tempos que vamos atravessando são o Outubro fusco que anuncia um dos grandes Dezembros do mundo. Temos já misérias, crises, dissoluções, velhas raízes que se despegam, prantos no vento; pior nos irá quando Dezembro vier: mas através de todas as vicissitudes sempre se conservará, como na Natureza, a eterna seiva, que é a aterna força. "  

Eça de Queirós, na Gazeta de Notícias em 2 de Abril de 1888.  in Notas Contemporâneas