Neste dia 25 de Abril, recordo dois poetas — três poemas: o antes e o depois de 1974
O longo sono
Depois da tempestade
o longo sono.
Os tributos. A fome. E o estrangeiro por dono
deste país que já não tem no nome
a independência da palavra liberdade.
Manuel Alegre, O canto e as armas, 1967
É preciso um país
Não mais Alcácer Quibir.
É preciso voltar a ter uma raiz
um chão para lavrar
um chão para florir.
É preciso um país.
Não mais navios a partir
para o país da ausência.
É preciso voltar ao ponto de partida
é preciso ficar e descobrir
a pátria onde foi traída
não só a independência
mas a vida.
Manuel Alegre, ib.
25 de Abril
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
Sophia de Mello Breyner, O Nome das Coisas.