Elena Ferrante, A Amiga Genial, Relógio D'Água, 2014, 264 páginas.
Este é o primeiro volume de uma série que já vai em quatro volumes, da autora italiana que tem despertado a curiosidade geral nos últimos anos pela sua escrita forte e pelos temas que retrata. O facto de publicar sob pseudónimo e ter mantido o anonimato adensou um mistério que foi, há pouco, desvendado pelas investigações de um jornalista, o que suscitou acesa polémica sobre o direito ao anonimato.
A narrativa situa-se num bairro pobre, de gente trabalhadora, dos subúrbios de Nápoles nos anos 50 do século XX e trata, essencialmente, da amizade entre duas raparigas, desde os tempos da escola primária até à adolescência e juventude, culminando no casamento precoce de uma delas.
Elena, a amiga que continua os seus estudos na escola secundária, recorda, na idade adulta, esses tempos passados no bairro, os ambientes, as famílias, as zangas e os mexericos de uma comunidade onde todos se conhecem e onde os problemas se resolvem entre eles com palavras e com actos mais ou menos violentos e onde tudo continua igual e a vida vai correndo sem grandes mudanças.
Elena e Lila tornam-se inseparáveis, são alunas óptimas na escola, mas Elena vive na dependência de Lila que considera um "génio", achando-se ela própria muito inferior em inteligência e capacidades.
A entrada de Elena na escola secundária, o contacto com um mundo diferente, a apreciação dos professores que elogiam o seu trabalho acabam por provocar em Elena sentimentos antagónicos e um desfasamento que em nada contribui para a sua felicidade. No seu bairro ela sente-se, por vezes, uma estranha, o comportamento dos seus amigos já não está de acordo com a sua maneira de ser, as conversas que ela gosta de ter sobre o que aprende na escola não interessam àqueles que continuam no bairro entregues a trabalhos nada intelectuais.
Elena fala-nos dos seus sentimentos, dos sonhos que ela e Lila tinham em miúdas e da mudança de tudo isso. Há nela uma solidão que se adensa junto daqueles que estima e que são os seus amigos e os seus familiares. Ela já não pertence a este mundo, mas também não pertence ao outro, o mundo da cidade onde se situa a escola que frequenta. E sente que vai perdendo a amiga que vai casar com um jovem, mais velho que elas, mas que tem dinheiro e pode dar a Lila uma vida bem diferente.