António Lobo Antunes, Sôbolos Rios que vão, Dom Quixote, 2010, 199 páginas.
A estrutura é diarística, começa no dia 21 de Março de 2007 e termina no dia 4 de Abril de 2007.
Deitado na cama do hospital, o protagonista passa em revista toda a sua vida, do passado ao presente, dos familiares aos amigos. Enquanto dá conta do bulício normal de um hospital e daquilo que se passa consigo, a sua mente vai revivendo outros momentos, outros tempos que se entrecruzam com os momentos presentes, numa confusão de datas e de situações.
É um reviver dos acontecimentos que marcaram a sua vida, é a angústia do presente, neste diálogo consigo mesmo, enquanto sofre os horrores da doença e sente "um ouriço no interior do corpo" "a dilatar-se e ele a calcular as zonas que ia ocupando uma a uma"; e as imagens iam passando na sua mente em catadupa, sobrepondo-se, interpenetrando-se e ele "tentava dar nome às formas e não achava os nomes, estava e não estava acordado como quando parece compreendermos o sentido do mundo que no instante de o compreendermos se esfuma".
Um romance denso, profundo, que nos faz meditar sobre a vida, sobre o sofrimento e nos deixa, não raras vezes, angustiados.
O título é simbólico, lembrando as redondilhas camonianas:
Sôbolos rios que vão
Por Babilónia me achei,
Onde sentado chorei
As lembranças de Sião
E quanto nela passei.
Que, por sua vez, se inspira no Salmo 136:
Junto dos rios de Babilónia
estávamos sentados e chorando,
lembrando-nos de Sião.